terça-feira, 25 de novembro de 2008

mosaico de mim

conheci todas as marés,
todas a luas,todos os tufões...
todos os céus e todos os infernos.
tumultos da minha alma.

sonhar é navegar por mares jamais vistos.
sonhei, sonhei tanto que precisei de cais.
terra firme, árida mas...porto.
porto, acolhida, calma, paz...

refazendo em mim as rotas,
revendo os mapas no tempo de pausa,
minha alma pede remanso,
pede por misericórdia ao mar.

o mar e suas imprevisões
é minha morada mais constante.
o mar: desafio mais profundo.

nas profundezas de mim está o mar,
nas profundidades do eu vivem tumultos,
nas alegorias do ser estou eu mesma,
sou navio, sou rota, sou maré, sou mar e porto,
sou tudo, sou nada, sou começo e sou final,
sou eu e sou você, sou todo mundo e sou ninguém,
sou sonho e realidade , e estou por toda parte!

parte de mim se alegra e parte de mim é pranto,
parte de mim se afoga e outra parte sobrevive,
parte de mim ainda te ama e parte de mim te odeia,
partida assim em pedaços, eu sou mosaico de mim.


Tania Renato

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Fome

Fome ininterrupta, brutal.

Fome de alimento e de ternura:

de alimento dado ternamente,

de ternura que alimenta o ser...



Fome biológica, consistente.

Fome de todas as amplitudes:

fome que gera fome,

fome que alimenta a fome,

fomefomefomefome

fome de cão e de afetos

fome de atenção e nutrientes

fome misturada com fome

fome faminta de tudo.


Fome cruel que alucina,

fome que doi e faz ódio,

fome que mata gerando o matador.


Fome feita de falta:

falta de amor, de amizade,

falta de respeito e solidariedade,

falta de vergonha e humanidade.



No despedício; falta a fome dos miseráveis.

Na indiferença; falta a fome dos pedintes.

Na arrogância; falta a fome dos humildes.


E toda essa falta só aumenta

a FOME

dos que esperam pelo pão.


Tania Renato
11/11/2008

domingo, 2 de novembro de 2008

As 4 operações

As 4 operações

Na eterna matemática da vida
Sou sempre a aprendiz.
Tentar, tentar...

À soma já estou acostumada:
Somo dores, tristezas, desencantos,
E já não quero mais adicionar.

A diminuição é complicada:
Como subtrair da vida já vivida?
Acho mesmo que somente a morte
Poderá essa conta acertar.

Da multiplicação entendo um pouco:
Multipliquei vida tendo um filho!
E nas operações com mais de 5,
Agora aprendi, com meu amigo,
Uso minhas mãos, dedos erguidos,
E posso atingir o infinito.

E vem a divisão:
Essa é bem fácil.
Quando é por 2 então...
Como é bonito!
Nunca sobra resto se for par.
Deus ama demais a divisão,
Partilhou pão, peixes, afagos,
Risos e perdão.
Pra dividir certinho
Basta amar!

Tania Renato

Astrolábio

"Abelardo e Heloise" é a mais bela história de amor que conheço. A Igreja não permitia o casamento de professores e ele era um deles.Tiveram um filho, Astrolábio, que é o nome do instrumento que mede a distância entre os astros.
Foram punidos, Abelardo foi castrado mas o amor entre eles manteve-se até a morte dos dois.
Fiz o poema sobre isso.

Astrolábio

Medição da distância entre as estrelas,
Ponte entre os astros na imensidão,
Fruto bendito do amor de Heloise
por Abelardo, casto professor.

A punição da falsa crença antiga,
rouba ao varão o dote e o vigor,
castrando o amor de homem e mulher.
Revolta, angústia, desespero e dor.

Porém se ao corpo forças são tiradas,
almas amantes permanecem sãs,
amam-se ainda calmas e perenes.

Brilhantes, fulgem na escuridão!
Da eternidade, um desolado Deus
diz: só do amor se faz verdade e fé.

Tania Renato